Ministros de Temer evitam tratar de temas cruciais nas redes sociais

Entre os 26 ministros avaliados apenas nove abordaram ao menos um dos cinco temas analisados pela pesquisa no Facebook, sendo que três deles realizaram quase 90% das postagens sobre os assuntos.

Pesquisa Ministros de Temer nas Redes Sociais - Medialogue Digital

A Medialogue Digital fez uma longa pesquisa entre setembro de 2016 e janeiro de 2017 para avaliar como os ministros do presidente Michel Temer usam suas redes sociais. Para consultar todos os resultados baixe a pesquisa completa: Os ministros de Temer nas Redes Sociais.

Segundo o coordenador do estudo, jornalista Alexandre Secco, existem sinais claros de que a equipe de comunicação de Temer não entendeu ou ignora a importância das redes sociais. “Há uma explicação plausível, de fundo histórico, para isso. O governo está acostumado a resolver seus problemas de comunicação comprando espaço publicitário na TV Globo, a mídia de maior alcance no país. O processo é fácil rápido e eficiente, pode ser resolvido em apenas um guichê”, afirma. Secco, porém, faz um alerta: “Dois eventos de grande magnitude ocorridos recentemente recomendam cautela com esses modelos tradicionais e sugerem que é hora de um pouco mais de ousadia. O voto pelo Brexit e a eleição de Trump escaparam do radar dos políticos, dos analistas e da mídia. Os desfechos surpreendentes escancaram o que já se sabia: está cada vez mais difícil falar com as pessoas, entender o que querem e pensam. As redes sociais têm tudo a ver com isso”.

Surpresas – Foram selecionados cinco assuntos de amplo interesse, entre os mais relevantes na pauta do governo: PEC do Teto, Reforma da Previdência, Novo Ensino Médio, Reforma Política e o pacote das 10 Medidas contra a Corrupção. Foi avaliada a presença dos 26 ministros nas quatro principais redes sociais: Facebook Twitter, YouTube e Instagram. Embora sejam temas que mexem com a vida de todos os brasileiros, apenas nove ministros falaram deles em suas redes. No intervalo pesquisado, os ministros fizeram mais de 4 mil posts em suas principais contas nas redes sociais e apenas 2% das postagens abordavam um dos cinco temas mais importantes selecionados pela pesquisa.

Os mais ativos – Apenas três ministros de Temer, Mendonça Filho da Educação, Roberto Freire da Cultura e Moreira Franco da Secretaria-Geral da Presidência foram responsáveis por 89% dos posts sobre os temas pesquisados, sendo que Mendonça Filho respondeu sozinho por 59%, falando essencialmente do Novo Ensino Médio, assunto de sua pasta. Sem levar em conta a produção do ministro Mendonça Filho, a apatia digital do ministério de Temer parece ainda maior: os cinco assuntos foram abordados apenas 40 vezes.

O desligado – Ronaldo Nogueira, ministro do Trabalho, não realizou nenhuma postagem a respeito do projeto mais importante de sua pasta e um dos assuntos que mais interessa aos trabalhadores: a Reforma da Previdência. Marcos Pereira, ministro da Indústria e Comércio, foi o mais produtivo no período, com quase 600 postagens e apenas uma menção a um dos cinco temas mais relevantes a PEC do Teto. Entre outras platitudes postadas em suas redes sociais, há uma foto em que ele aparece fazendo compras em um supermercado.

Influência digital – A pesquisa também avaliou o grau de influência do ministério, usando a metodologia da Pesquisa Político Digital. O resulta também desaponta: apenas cinco das 26 ministros receberam nota 6 ou acima no levantamento e foram considerados influentes, outros dez ministros são presentes e o maior grupo, 11 são ausentes. Pelos critérios da pesquisa, considera-se influente o ministro que está presente de forma abrangente na internet e redes sociais, conta com uma audiência relevante e possui um nível de interação acima da média em seus canais.

Clique aqui para baixar o estudo completo.

Alexandre Secco Campanha Digital
“Está cada vez mais difícil falar com as pessoas, entender o que querem e pensam. As redes sociais têm tudo a ver com isso”, diz Alexandre Secco, diretor da Medialogue e coordenador do estudo

O engajado e o desligado
Mendonça Filho
O ministro da educação dedicou 12% das suas postagens no Facebook à Reforma do Ensino Médio. Sozinho ele respondeu por quase 60% de todas as postagens a respeito dos temas analisados considerando todos os ministros.

Ronaldo Nogueira
O ministro do Trabalho e da Previdências não tratou da reforma da Previdência na sua página do Facebook.

Os populares e os sumidos
Marcos Pereira e Marx Beltrão
Os ministros da Indústria (Pereira) e do Turismo (Beltrão) são os mais assíduos no Facebook e realizaram mais de 500 postagens, cada um, na rede social no período da pesquisa. O timeline dos ministros é, em grande parte, protocolar e registra reuniões com parlamentares e empresários sem se aprofundar nos temas tratados. Na tentativa de dar leveza aos canais, também publicaram fotos pessoais, frases inspiracionais e trechos de textos religiosos.

Raul Jungmann e Fernando Filho
O ministro da Defesa (Jungmann) possui perfis nos quatro redes sociais analisadas nesta pesquisa, mas parou de postar nos canais em agosto de 2016, pouco depois de assumir o posto. Os perfis continuam no ar, abandonados, assim como o seu site. O titular de Minas e Energia (Filho) fez 39 postagens na sua página do Facebook no período analisado, média de uma a cada 4 dias.

Os tuiteiros
Roberto Freire e Osmar Terra
O ministro da Cultura (Freire) é de longe o mais prolífico tuiteiro da Esplanada. No período analisado fez mais de 2,5 mil postagens na rede social, uma média de 17 por dia. O seu volume é quase cinco vezes maior que o segundo colocado, o ministro do Desenvolvimento Social (Terra) que tuitou pouco mais de 560 vezes, perto de quatro vezes por dia. Os dois costumam retuitar muitos conteúdos, especialmente das contas oficiais dos seus respectivos ministérios, e comentam uma variedade de assuntos.

Tenho acesso ao estudo “Os ministros de Temer nas redes sociais” na íntegra em www.medialogue.com.br/ministrosnasredessociais.

Alexandre Secco é jornalista e sócio da Medialogue Digital. É especialista em comunicação digital. Coordena o comitê de marketing político digital da Abradi (Associação Brasileira dos Agentes Digitais). Passou por Exame, Veja e Folha de S.Paulo.