Por que eles nos fazem dormir, por Alexandre Secco

Alexandre Secco Campanha Digital
Alexandre Secco, sócio e diretor da Medialogue Digital, em evento em São Paulo

A era da inocência acabou — As pessoas entraram em peso na conversa política pelas redes sociais. Não foi discutindo política do jeito que os políticos gostam, com toda aquela chatice e hipocrisia. Em 2014, as eleições presidenciais no Brasil foram o terceiro assunto mais discutido no Facebook. No mundo todo! Não é incrível? E sabe do que as pessoas falaram? Um estudo realizado pela Medialogue mostrou que apenas 5% dos posts sobre Dilma ou Aécio no Facebook e Twitter mencionavam propostas feitas pelos candidatos. As pessoas discutiam os temas de seu interesse, do seu jeito, com memes, muitas piadas e com muita rapidez, na velocidade das redes sociais.

Segundo o mesmo estudo, em um único dia de campanha a rede chegou a discutir 80 assuntos diferentes! Os candidatos erraram feio na tentativa de pautar o debate e quando tentavam entrar na conversa o assunto já havia mudado. Não pode ser assim. Eu acho que a primeira obrigação de quem quer governar é de nos manter acordados quando está falando, especialmente quando está falando sobre nosso futuro. Além do mais, a pauta é deles: Zika Vírus, Lava Jato, lama no Rio Doce, aborto, violência policial, cotas raciais… Dá para dormir com o barulho dessas polêmicas. Pois é, políticos conseguem.

Mas o fato é que a era da inocência acabou para o debate político nas redes sociais e essa é uma ótima notícia para todos nós que votamos e nem tão boa assim para os 530.000 candidatos que deverão pedir votos em 2016. O sucesso das eleições brasileiras no Facebook mostra que o assunto política é tão bom quanto qualquer outro para levantar paixões (e acordar as pessoas). O problema, parece, está na forma como é apresentado pelos candidatos. Eles ainda têm um tempo para melhorar, mas este ano há vários fatos novos, que devem tornar a vida dos políticos ainda mais difícil. Alguns deles:

1. Sem as doações de empresas haverá menos dinheiro. As campanhas precisarão de mais ideias.

2. O nascimento do político digital. Vários candidaturas já estão se organizando para fazer da web seu único palanque.

3. Acabou o like grátis no Facebook. A limitação do alcance orgânico na rede social deixa duas alternativas para quem quer aparecer: pagar ou criar conteúdos extraordinários.

4. Data analytics e análise preditiva. Nos Estados Unidos os partidos já sustentam equipes que desenvolvem tecnologias de análise de dados. Aqui…

5. O mobile leva boa parte da audiência na web. Uma coisa era criar para o desktop, outra coisa é fazer para a telinha.

6. Atenção. Por que você está aqui se poderia estar vendo o Jornal Nacional?

7. WhatsApp, Telegram, Viber: como falar com o pessoal das redes fechadas?

8. Fakes, robôs e outros bichos… eles infernizam a vida dos eleitores e fazem uma eleição paralela.

Acorda!

Alexandre Secco
Medialogue Digital