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Uma chance de fazer o que ninguém faz, por Alexandre Secco

Essa é uma alegoria política sobre a lógica de se fazer o que todo mundo faz. Dois dos maiores escândalos políticos já ocorridos no Brasil, o mensalão e o petrolão, têm na origem a arrecadação de dinheiro para financiamento de campanhas eleitorais. Alguém deve ter pensado que fechando as torneiras o problema acabaria e aprovou-se uma nova lei eleitoral extremamente restritiva, que visa limitar a gastança. Para esta eleição está valendo o modelo baseado no financiamento exclusivo de campanhas por pessoas físicas. Significa que nem padarias, nem empreiteiras podem fazer doações, só o João e a Maria. Ainda resta saber quem vai topar dar uma parte do salário para um político gastar pedindo votos e como isso será feito, mas essa é uma outra história. Teoricamente, os candidatos serão forçados a pensar em estratégias eleitorais de baixo orçamento e alta eficiência. A não ser pelo caixa dois, ou se tirarem do próprio bolso, não poderão bancar as estruturas de astros de rock que haviam se transformado no padrão das principais campanhas eleitorais no país. Quem sabe, precisarão de mais ideias e menos blá-blá-blá, mais conteúdo e menos fogos de artifício. Quem sabe…

Não é fácil, porque falar de ideias requer primeiro que os candidatos as tenham e, segundo, que saibam explicá-las. Como até as pedras sabem, de um modo geral políticos desdenham ideias e não gostam de dar explicações. Não é por outra razão que a maioria prefere mesmo os foguetórios e o oba-oba. Há um outro lado da moeda. Jogadores de futebol, radialistas, personalidades de TV e outras figuras famosas tendem a sair na frente em uma disputa com recursos propagandísticos e tempo reduzidos. Eles poderão economizar o tempo que os concorrentes gastarão para se apresentar. O deputado televisivo Celso Russomano, em São Paulo, não apresentou uma proposta sequer e já lidera as pesquisas.

Não existem garantias de que a legislação atual terá vida longa, daqui a pouco muda tudo e liberam até o showmício novamente… Nosso retrospecto de idas e vindas nessa matéria não é muito bom. Parece que até o regulamento do campeonato brasileiro de futebol é mais estável do que a legislação eleitoral. Porém, alguns pontos parecem ser consensuias, especialmente em relação a necessidade de termos campanhas mais eficientes, consistentes e transparentes.

Nesse cenário, a presença e a relevância dos canais digitais devem aumentar, trazendo novas possibilidades e responsabilidades para candidatos e eleitores. O digital não é novidade na política aqui em nosso país. Em 2014, as eleições brasileiras foram o terceiro assunto mais discutido no Facebook, em seu ranking mundial. No entanto, ainda existe muito a ser feito para que os recursos digitais sejam usados plenamente na construção de um ambiente mais democrático e transparente.

Para muitos candidatos, a internet em campanha é mais importante para destruir do que para construir. Fakes, robôs, spam, trollagem, cyberhacking, invasões, conteúdos forjados….a vala mais funda é o limite para a baixaria. Pragmaticamente falando, usar o lado escuro da força digital é extremamente tentador: não custa nada, costuma ser eficiente, qualquer um sabe fazer, etc, etc. Nossa curta história de internet nas eleições registra inúmeros eventos digitais responsáveis por detonar candidaturas vitoriosas e por catapultar desconhecidos. Um videozinho fraudado na reta final da campanha pode ser bomba atômica. E se viraliza? Não dá tempo para conseguir na Justiça a remoção, nem dá chance ao candidato para apresentar explicações. Da noite para o dia a lorota “cai na boca do povo” e uma candidatura vai para o beleleu. Entortando a frase de Steve Jobs: quem vai querer navegar em um barquinho, se pode pilotar um navio pirata? Antes, quando as campanhas eram analógicas, disseminar boatos era mais difícil, era preciso fazer vídeos, imprimir jornais e pagar para distribuí-los. Hoje, qualquer moleque que sabe como caçar Pokemons precisa de apenas meia hora para montar uma plataforma completa de difamação digital.

Os empreiteiros enquadrados pelo juiz Sergio Moro explicaram que fizeram suas traquitanas porque todo mundo fazia e se todo mundo faz, segundo eles, está tudo certo, ou pelo menos é aceitável. Eles, empreiteiros, assim como os políticos, desenvolveram um modelo de justificativa eficiente para dormir em  paz. Qualquer um deles lhe dirá que “se não fizer o que todo mundo faz” está fora do jogo, a empresa quebra e milhares de trabalhadores perdem o emprego….Desenvolveram um espécie de função social da roubalheira. Na versão de candidatos,  a história fica assim: “preciso fazer o que todo mundo faz nas campanhas para derrotar meu oponente e ter a chance de fazer um governo maravilhoso!”. A lógica até boa, a não se pelo fato de que, levada às últimas consequências, devolve o país à vida na selva, onde se faz o que todo mundo faz, pois o único objetivo é ficar vivo a todo custo, inclusive devorando a vizinhança se for preciso. Ou seja, empreiteiros e políticos que fazem o que “todo mundo faz” são, no fundo, gente guiada por instintos. Só isso.

A Abradi (Associação Brasileira dos Agentes Digitais) preparou uma lista de orientações para todos que vão se envolver na produção de campanhas. O objetivo principal é estabelecer alguns princípios, eventualmente apenas pontos para reflexão, sobre as melhores práticas de relacionamento com campanhas eleitorais. Agências, em especial as pequenas, sofrem uma grande pressão para “fazer o que todo mundo faz”. Esse pequeno código pode ser uma respostas. Pode ser encontrado aqui: http://goo.gl/NpTEs5.

Alexandre Secco, diretor da Medialogue

Alexandre Secco é jornalista e sócio da Medialogue Digital. É especialista em comunicação digital. Coordena o comitê de marketing político digital da Abradi (Associação Brasileira dos Agentes Digitais). Passou por Exame, Veja e Folha de S.Paulo (secco@medialogue.com.br).